Mateus 26:36-46
Era a
festa da Páscoa judaica, a cidade de Jerusalém estava fervilhando de
gente vinda de todos os campos, o Sinédrio judaico nas caladas da noite
conspirava contra Jesus, e Jesus está no Cenáculo conversando com os
seus discípulos, lavando os pés dos seus discípulos, ensinando-os acerca
da humildade, acerca da promessa da vinda do Espírito Santo. Jesus ora
pelos seus discípulos, Jesus ministra a Ceia para os seus discípulos, e
neste momento, Judas sai para trair a Jesus.
Este
é um tempo difícil, onde Jesus sai do Cenáculo para ir ao Getsêmani,
que era um jardim defronte ao templo de Jerusalém, nas fraldas do monte
das Oliveiras, ali havia uma prensa de azeite, e Getsêmani significa
isto: “prensa de azeite”. É neste lugar que Jesus vai travar a mais
decisiva batalha da humanidade. É neste lugar que Jesus vai prostrar-se
ao chão, e suar sangue e chorar compulsivamente.
É neste lugar que Jesus vai se levantar pra determinadamente ir para o
Calvário morrer numa cruz em nosso lugar e em nosso favor. O Getsêmani
da vida também é assim, e nele enfrentamos alguns obstáculos:
Em
primeiro lugar, enfrentamos o drama da angústia e da aflição. Para a
multidão Jesus falou muitas coisas, mas quando ele precisou falar sobre o
traidor ele falou apenas para os seus doze apóstolos, quando ele entrou
no Getsêmani, para falar que a sua alma estava angustiada até a morte,
ele só disse isto para Pedro, Tiago e João. Mas quando Ele suou sangue,
quando Ele ofereceu a Deus orações com forte clamor e lágrimas, quando
Ele sentiu o preço do nosso pecado, Ele estava literalmente só, suando
sangue, prostrado ao chão.
Na vida nós
passaremos pelo Getsêmani da aflição e da angústia. Haverá
circunstâncias que teremos ao nosso lado amigos, outras circunstâncias
teremos poucos e achegados amigos, mas na hora da nossa dor mais
profunda, das nossas lágrimas mais quentes, do sangue esvaindo-se de
nós, quando estivermos prostrados, esta é a hora em que nós beberemos
deste cálice sozinho, ali estaremos enfrentando o drama das angústias
mais profundas e mais avassaladoras.
É
importante perguntar o porquê de Jesus está triste, por que a sua alma
está aflita? Certamente não foi porque o Cinédrio nas caladas da noite
tramava contra Ele. Jesus não está triste apenas porque Judas
covardemente o traiu por míseras moedas de prata, a tristeza de Jesus
não é decorrente do fato de que Pedro haveria de negá-lo naquela noite, a
tristeza de Jesus não está no fato de que os judeus, por inveja, o
entregariam a Pôncio Pilatos, que por covardia o entregaria à cruz. A
tristeza de Jesus não consiste no fato de saber que ele vai ser cuspido,
torturado, esbordoado, que vão enterrar em sua cabeça uma dolorosa
coroa de espinhos.
A tristeza de Jesus não está
no fato de ser entregue nas mãos dos pecadores para ser preso numa cruz
diante de dores lancinantes. A angústia de Jesus está no fato de saber,
que Ele se faria pecado por nós, Ele que é Santo, Santo, Santo, haveria
de se fazer maldição por nós, e haveria de beber o cálice da ira de
Deus por nós, em que seria abandonado pelo próprio Pai, naquela cruz
maldita, para se fazer pecado e maldição por nós e morrer a nossa morte,
para nos dar a Vida Eterna. Na vida nós também enfrentaremos o
Getsêmani da dor, da aflição e da tristeza.
No
Getsêmani da vida nós também enfrentaremos o drama da solidão. Jesus
Cristo foi acompanhado por uma vasta multidão, mas quando Ele precisou
conversar sobre o traidor no Cenáculo, Ele só disse essas palavras para
os seus doze discípulos. Dali Ele desce para o monte Sião, atravessa o
vale do Cedrom, penetra nas fraldas do monte das Oliveiras, e quando
chega ao jardim do Getsêmani, diz a Escritura que Ele disse para Pedro,
Tiago e João ficarem do lado dEle, para o assistirem, para vigiarem com
Ele, e somente para esses três mais íntimos Jesus disse: “A minha alma
está profundamente triste, até a morte”.
Entretanto,
Jesus deixou os três e caminhou adiante e prostrou o rosto em terra, e
clamava: “Pai, se possível passa de mim este cálice, mas não se faça a
minha vontade e sim a Tua”. Diz o evangelista Lucas que a intensidade da
oração de Jesus foi tal, e a agonia dEle foi tão profunda que Ele
começou a suar sangue.
Nesta hora, Jesus estava
literal e absolutamente sozinho. Possivelmente na caminhada da vida
você terá amigos, companheiros, família, talvez nas horas mais amargas e
difíceis você pedirá a um grupo para estar ao seu lado, mas quando você
tiver que enfrentar o Getsêmani da sua solidão, quando seus joelhos se
dobrarem e o seu rosto cair por terra, quando as lágrimas grossas
começarem a rolar pela sua face, quando você começar a sentir o drama de
suar sangue e enfrentar a angústia mais profunda da sua alma,
possivelmente nesta hora você estará sozinho, este é o Getsêmani da
solidão.
Mas Jesus Cristo enfrenta também o
Getsêmani da oração. Jesus Cristo vai ao jardim para orar, e Ele diz aos
seus discípulos: “Vigiai e orai para que não entreis em tentação, a
carne é fraca”. E Jesus agora chega para os três discípulos: Pedro,
Tiago e João e diz “vigiai comigo”, e Ele avança um pouco mais, e se
dobra, põe o rosto em terra e começa a orar: “Pai, se possível passe de
mim este cálice, mas não seja feita a minha vontade e sim a Tua”.
Jesus
se levanta da oração e vai ao encontro de Pedro, Tiago e João, que
estavam dormindo. Jesus os acorda e diz a Pedro, nem uma hora pudestes
vigiar comigo, vigiai e orai para que não entreis em tentação; Jesus
retorna ao local solitário de oração, prostra-se com o rosto em terra e
repete a oração: “Pai, se possível passe de mim este cálice, mas não
seja feita a minha vontade e sim a Tua”.
Diz a
Bíblia que Jesus levanta-se outra vez e vai ao encontro de Pedro, Tiago e
João e eles ainda estão dormindo, e Lucas diz que eles estavam dormindo
o sono da tristeza, e Jesus os repreende outra vez por estarem dormindo
e não vigiando e orando, e retorna outra vez, e Lucas nos informa que
Jesus ora pela terceira vez, não apenas repetindo as mesmas palavras,
mas mais intensamente, com mais fervor e intensidade; e é aí que Hebreus
nos informa que Jesus ora com forte clamor e lágrimas.
Possivelmente
as lágrimas banharam a sua face, molharam o chão; esse é o momento que
Lucas informa que o suor de Jesus começa a se transformar em gotas de
sangue caindo ao chão, mas Ele se levanta desta oração vitorioso,
fortalecido e vai acordar os seus discípulos: “ainda dormis e repousais,
levantemo-nos porque o traidor se aproxima”. Jesus agora está
fortalecido para enfrentar os seus inimigos.
Quando
a turma chega, capitaneada por Judas Iscariotes, Jesus pergunta: a quem
buscais? E eles respondem a Jesus o nazareno. Jesus diz: “Sou Eu”. E
diz a Bíblia que eles caíram por terra. Eles se ergueram outra vez e
Jesus diz novamente: a quem buscais? E eles respondem a Jesus o
nazareno. Jesus diz: “Sou Eu, então deixem estes outros irem”.
Jesus
se levanta não para fugir, Ele se levanta para enfrentar os seus
inimigos, Jesus sabia que havia chegado a Sua hora, aquela hora traçada
na eternidade, aquela hora apontada pelo relógio do Céu tinha chegado e
Jesus haveria de ser entregue nas mãos dos pecadores para morrer numa
cruz em nosso lugar, em nosso favor, para nos dar perdão, redenção e
vida eterna.
Mas diz a Bíblia que Jesus
também passa pelo Getsêmani do consolo. Enquanto Jesus agonizava em
oração no Getsêmani, sem a presença de seus discípulos, sem a vigilância
de Pedro, Tiago e João, diz a Escritura que diante do drama daquela
cena, o inimigo se aproximando com as suas espadas, Pedro saca sua
espada, e Jesus disse: “Guarda tua espada Pedro, se eu precisasse, eu
mandaria vir dos céus doze legiões de anjos”.
Doze
legiões de anjos são setenta e dois mil anjos. Jesus não precisava
desse exército angelical para lutar por Ele, pois exatamente para esta
hora Ele havia vindo ao mundo. Mas diz a Bíblia que Deus enviou um anjo
para consolar Jesus.
Nos Getsêmanis da vida, no
vale escuro da caminhada, quando você sentir a dor apertando seu peito,
quando você perceber que as pessoas mais próximas vão estar longe de
você ou perto, mas indiferentes à sua dor, nesta hora virá do céu um
consolo angelical, virá do céu um consolo extraordinário, porque Deus é
um Deus que nos consola na hora da nossa angústia, Ele é o Deus e Pai de
toda consolação.
Deus não nos poupa dos
problemas, Deus não nos poupa das aflições, mas Deus nos consola nas
aflições. Nos jardins da vida quando tivermos que enfrentar os
Getsêmanis, a prensas de azeite, quando nos sentirmos amassados
emocionalmente, nessas horas passaremos por tristezas sim, passaremos
por momentos de solidão também, teremos que dobrar os nossos joelhos com
oração fervorosa e com lágrimas.
Mas é verdade
que nós receberemos de Deus o consolo, o refrigério e o bálsamo da sua
presença. O nosso Deus é o Deus e Pai de toda consolação, é o Deus que
enxuga as nossas lágrimas, é o Deus que nos apanha no colo, é o Deus que
nos carrega nos braços, é o Deus que sustenta nossa vida, transforma
vales em mananciais, transforma noites escuras em manhãs radiosas e é o
Deus que põe em nossos lábios um hino de louvor nas noites escuras da
nossa aflição.
Rev. Hernandes Dias Lopes.